Quem acompanhou o Palmeiras nos anos 2000 talvez ainda se lembre de Jorge Preá, atacante veloz que chegou ao clube após se destacar no futebol gaúcho. Hoje, longe dos holofotes, ele leva uma rotina que pouca gente imagina: faz entregas para um açougue no Mercadão da Lapa, limpa bueiros, dá aulas para crianças e treina times de várzea em São Paulo.
Desde a infância, quando ainda morava na Casa Verde, zona norte da capital paulista, Jorge se destacava por correr mais que os outros meninos. Não à toa, ganhou de um vizinho o apelido “Preá”, que acabou virando nome no futebol. No entanto, foi só aos 23 anos que ele realmente viu as portas começarem a se abrir. César Sampaio organizou uma peneira, aprovou Jorge Preá e o levou para o Pelotas (RS), onde ele marcou três gols na estreia e rapidamente ganhou notoriedade
Do Palmeiras ao açougue: uma virada de vida fora das quatro linhas
Após agens por clubes como Athletico-PR, ABC, Cascavel e Sinop, Preá pendurou as chuteiras em 2019, quando jogava pelo Real Ariquemes-RO. Ele afirma que foi tirado do time sem justificativa e, sem receber os valores devidos, entrou na Justiça. Durante a espera, a necessidade falou mais alto: “Eu não tinha dinheiro e precisava pagar as contas em casa. Comecei a trabalhar na Prefeitura, limpando bueiros”, conta ele.
Mais tarde, ou a fazer entregas de carne no Mercadão da Lapa, onde trabalha até hoje. “Já estou aqui há 5 anos, muito feliz, graças a Deus. Faço entrega para o açougue do seu Carlos, nos boxes 18 e 20. Levo mercadoria para restaurantes, bares, prédios, faço tudo com muito orgulho”, relata.
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Professor e inspiração para novas gerações
Apesar da reviravolta na carreira, Preá jamais abandonou o futebol. Atualmente, ele participa do projeto Chute Inicial, do Corinthians, onde ensina fundamentos do esporte para crianças e compartilha suas vivências dentro e fora dos gramados. “Conto minha história para mostrar que a realidade do jogador nem sempre é o que a gente vê na TV”, diz ele, que já teve até proposta da Coreia do Sul — frustrada por uma lesão no joelho.
Preá destaca com carinho o técnico Vanderlei Luxemburgo, que pediu sua contratação no Verdão. “Ele me ensinou muito sobre postura, confiança e espírito de vencedor. Foi o melhor treinador que tive”, relembra. Em sete jogos com Luxemburgo, fez um gol decisivo contra a Portuguesa, que garantiu o Palmeiras na semifinal do Paulistão 2008.
Entre lutas e vitórias fora dos gramados
A realidade de ex-jogador nunca foi fácil. Ele já limpou bueiros, entregou carne e hoje soma de R$ 4 a R$ 5 mil por mês com os três trabalhos. O objetivo, porém, nunca mudou: dar uma vida melhor para a família. “Queria dar uma casa para minha mãe, e graças a Deus eu consegui”, conta, emocionado. “Prefiro estar do jeito que estou: com a consciência tranquila e o respeito das pessoas.”
Perguntas frequentes
Ele trabalha como entregador no Mercadão da Lapa, ensina futebol em projeto social e treina times de várzea.
Preá encerrou a carreira em 2019 após ser retirado do time Real Ariquemes-RO sem explicação e sem receber seus pagamentos.
Segundo ele, “o futebol é muito sujo” e muitos talentos são ofuscados por interesses de empresários.