Um vídeo que mostra uma mulher colocando um bebê para mamar diretamente nas tetas de uma vaca viralizou nas redes sociais. Desde então, a cena causou comoção e reacendeu um antigo debate: até que ponto uma prática cultural deve se sobrepor aos cuidados com a saúde infantil?
Por trás do gesto: tradição ou negligência?
Por um lado, seguidores do hinduísmo defenderam a mulher. De acordo com essa crença, a vaca representa pureza, maternidade e vida. Dessa forma, o gesto simboliza espiritualidade e conexão com o divino. “A vaca é a segunda forma de Deus”, escreveu o autor da publicação original.
Por outro lado, muitos usuários reagiram com indignação. Para eles, a imagem mostrou uma exposição absurda e irresponsável de um recém-nascido. Além disso, vários questionaram se o ato poderia configurar crime ou maus-tratos infantis.
Especialistas reforçam alerta sanitário
Enquanto as discussões avançam nas redes, profissionais da saúde não hesitam em se posicionar. Segundo o infectologista Daniel Nogueira, da Sociedade Brasileira de Infectologia, a prática oferece riscos sérios. “O contato direto com o úbere da vaca pode expor o bebê a bactérias como E. coli, Salmonella e brucelose, entre outras”, explicou o médico.
Além disso, a Organização Mundial da Saúde recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses. O leite de vaca, mesmo pasteurizado, pode causar reações alérgicas e sobrecarregar os rins do bebê. Quando ingerido cru e direto do animal, o risco aumenta drasticamente.
Redes sociais acentuam o choque cultural
Diante da repercussão, especialistas em antropologia analisam o impacto do vídeo fora de seu contexto original. Para a antropóloga Adriana Almeida, o choque era previsível. “O mundo digital não respeita fronteiras culturais. O que é ritual para alguns, torna-se barbárie para outros”, afirmou.
Nesse sentido, a viralização do conteúdo não apenas dividiu opiniões, mas também revelou a dificuldade em conciliar tradições milenares com os padrões globais de proteção à infância. Assim, o caso não termina no vídeo. Ele levanta discussões importantes sobre liberdade religiosa, direitos da criança e os limites da fé.
Perguntas frequentes
A liberdade de crença é protegida, mas não pode ameaçar a saúde de terceiros, principalmente de crianças.
Não. O leite materno contém anticorpos essenciais e é o único adequado para bebês até os seis meses.
A legislação local define os limites, mas o debate público influencia diretamente essa interpretação.