O México registrou mais um episódio brutal de violência política. Lucero López Maza, candidata à presidência da câmara municipal de La Concordia, no estado de Chiapas, foi assassinada durante um ato de campanha nesta semana. O ataque ocorreu em plena luz do dia, enquanto a comitiva da candidata circulava por uma comunidade rural. A emboscada terminou com a morte de Lucero e pelo menos seis outras vítimas.
O crime chocou a população local e reforçou um padrão já conhecido: o avanço sistemático de grupos criminosos sobre a estrutura política do país.
Eleição sob ameaça: 30 candidatos já morreram desde setembro
Lucero não foi a primeira. E dificilmente será a última. Desde setembro de 2023, o México já contabiliza 30 assassinatos de candidatos nas eleições municipais e estaduais. A maioria das mortes ocorreu em zonas onde o Estado perdeu o controle territorial — caso de Chiapas, onde milícias armadas, cartéis e grupos paramilitares atuam livremente.
A candidata, filiada ao pequeno Partido Popular Chiapaneco, não contava com escolta nem proteção do governo federal. Como muitos políticos de regiões periféricas, ela fazia campanha com recursos mínimos, expondo-se a riscos previsíveis, mas ignorados pelas autoridades.
Grupos armados impõem regras e elegem seus representantes
Especialistas em segurança apontam que os cartéis mexicanos enxergam as eleições como uma oportunidade para consolidar o poder. Em cidades como La Concordia, milícias armadas decidem quem pode ou não se candidatar. Quando não conseguem negociar, eliminam.
“A política se tornou mais uma frente de guerra para o crime organizado. Hoje, um mandato municipal vale tanto quanto uma rota de tráfico”, afirma o pesquisador Alejandro Hope, em artigo publicado no jornal El Universal antes de sua morte em 2023.
Governo promete reforço, mas ação ainda é reativa
O presidente Andrés Manuel López Obrador lamentou o crime, prometeu investigação rigorosa e reforço na segurança. No entanto, a atuação do governo federal segue marcada por ações pontuais, sem uma política estruturada de proteção a candidatos em risco. O Protocolo de Segurança Eleitoral, criado em 2018, cobre apenas candidatos que registram formalmente ameaças — algo inviável para siglas menores ou locais dominados pelo medo.
Urna ameaçada: abstenção deve crescer nas regiões mais violentas
A tragédia em Chiapas deve impactar diretamente o comparecimento às urnas no dia 2 de junho. Regiões com alto índice de violência costumam registrar abstenções superiores a 50%, segundo o Instituto Nacional Eleitoral (INE). Moradores evitam se envolver por medo, e os grupos armados aproveitam o vácuo para consolidar seu domínio político.
Lucero se torna símbolo de uma eleição marcada pelo sangue
A morte de Lucero López Maza escancara a fragilidade do processo democrático em áreas onde o voto não é livre, mas imposto pelo medo. Ela agora integra uma estatística trágica que coloca o México entre os países com maior índice de violência política do mundo.
Sem respostas rápidas e efetivas, o país corre o risco de realizar eleições sob o controle da bala, e não da urna.
Perguntas e respostas:
Porque o crime ocorreu a poucos dias das eleições gerais, evidenciando a grave crise de segurança que atinge o processo democrático no país. Lucero era mais uma candidata morta em um ciclo eleitoral já marcado por violência extrema — ao menos 30 postulantes a cargos públicos foram assassinados desde setembro de 2023. O caso reforça a denúncia de que o crime organizado controla parte das decisões políticas em regiões como Chiapas.
Embora as autoridades ainda investiguem, a dinâmica do crime — emboscada armada em área rural com múltiplas vítimas — indica possível envolvimento de grupos criminosos locais ou milícias ligadas ao narcotráfico. Chiapas é um território disputado por facções como o Cartel de Sinaloa e o CJNG, que atuam também no controle político de cidades menores, eliminando adversários e candidatos independentes.
Revela uma falha estrutural grave. Apesar dos esforços federais, o Estado não consegue garantir segurança plena a todos os candidatos, principalmente em municípios pobres e isolados. O protocolo de proteção só é ativado após denúncia formal, algo inviável em regiões onde até registrar um boletim de ocorrência pode significar uma sentença de morte. O caso de Lucero ilustra como o medo e a violência moldam o cenário político em diversas partes do país.