O caso de uma mulher que procurou atendimento médico para sua boneca reborn, tratada por ela como filha, provocou forte repercussão nas redes sociais. O episódio, além de incomum, expôs divergências sobre o papel do Estado diante de vínculos afetivos não convencionais.
Vídeo com boneca amamentada viraliza e divide opiniões
Em um vídeo que rapidamente se espalhou pela internet, a mulher aparece amamentando a boneca e relata, em tom emocionado, que funcionários do SUS se recusaram a atender sua “filha”. Segundo ela, a negativa representou um ato de preconceito. Ao se defender, afirmou com ironia: “E daí que ela é de silicone? O peito que tu gosta de chupar também não é?”. A frase gerou uma avalanche de comentários tanto de apoio quanto de críticas.
Por outro lado, profissionais da área da saúde mental argumentam que o uso de bonecas reborn pode, sim, ter valor terapêutico. Muitas mulheres adotam essas bonecas como forma de enfrentar traumas ligados à maternidade, perdas gestacionais ou isolamento emocional. Assim, embora o comportamento soe estranho a muitos, ele pode representar uma estratégia legítima de enfrentamento.
Projeto de lei busca reconhecimento oficial às “mães reborn”
Como consequência da repercussão, o tema chegou ao poder público. O vereador Vitor Hugo (AMDB) propôs o “Dia da Cegonha Reborn”, já aprovado na Câmara Municipal do Rio e que agora aguarda a sanção do prefeito Eduardo Paes. A data escolhida, 4 de setembro, pretende simbolizar o acolhimento às mulheres que vivem essa maternidade simbólica.
Além disso, a deputada federal Rosângela Mouro apresentou um projeto de lei que reconhece formalmente o valor terapêutico das relações entre mulheres e bonecas reborn. Segundo ela, esse reconhecimento pode ampliar o o a atendimentos psicológicos e humanizados, respeitando as particularidades de cada caso.
SUS enfrenta dilema entre limite técnico e acolhimento emocional
Apesar da comoção, é importante destacar que o SUS opera com base em diretrizes técnicas. Portanto, atendimentos médicos devem obedecer a critérios objetivos de necessidade clínica. No entanto, especialistas alertam que acolher emocionalmente pacientes em sofrimento psicológico não significa validar alucinações mas sim prevenir o agravamento de quadros mentais.
Dessa forma, o caso reacende um questionamento importante: o sistema de saúde deve ignorar os vínculos simbólicos que, mesmo inusitados, representam dor real para algumas pessoas?
Perguntas frequentes
Acolher não é validar delírios, mas prevenir crises futuras com escuta qualificada.
Para quem vive o vazio da perda, fingir não é negar é sobreviver.
Se o Estado legisla sobre datas comerciais, por que não sobre afetos reais?