O vídeo do menino chorando ao se despedir da mãe, assassinada brutalmente no Acre, revelou uma dor que vai além da vítima direta. Embora a sociedade fale sobre os altos índices de feminicídio, raramente considera as consequências emocionais e sociais enfrentadas pelos filhos que essas mulheres deixam para trás. Nesse contexto, o menino do Acre representa milhares de crianças que, infelizmente, se tornam invisíveis após a tragédia.
Enquanto os números crescem, o Brasil silencia diante das consequências
De acordo com dados oficiais, em 2022, o Brasil registrou 1.437 feminicídios. Como resultado direto, mais de 2.500 crianças e adolescentes ficaram órfãos. Especificamente no Acre, entre 2018 e 2024, 118 menores perderam suas mães de forma violenta. Esses números, portanto, não apenas refletem a brutalidade do crime, mas também apontam para uma realidade negligenciada: a de crianças desamparadas que vivem com traumas profundos.
Além da dor da perda, crianças enfrentam abandono e traumas múltiplos
Além de sofrerem a perda irreparável da mãe, muitas dessas crianças precisam lidar com o fato de que o autor do crime, frequentemente, é o próprio pai. Dessa forma, o luto se transforma em uma dor dupla e prolongada. Ademais, a ausência de uma rede de apoio estruturada contribui para o surgimento de problemas psicológicos, como depressão, ansiedade e transtornos de comportamento. Em muitos casos, a criança ainda sofre rejeição de familiares e enfrenta dificuldades de adaptação escolar e social.
Apesar das leis recentes, o apoio ainda é limitado e pouco efetivo
Em resposta a essa crise, o governo federal sancionou, em 2023, uma lei que garante pensão especial para filhos de vítimas de feminicídio em famílias de baixa renda. No entanto, apesar de ser um avanço, essa medida atinge apenas uma parcela das crianças. No Acre, por exemplo, a Lei Estadual nº 4.065/2022 instituiu uma política específica de atenção integral a esses órfãos. Ainda assim, por falta de estrutura e orçamento, a aplicação da lei continua restrita.
Além disso, especialistas alertam que, sem dados precisos sobre essas crianças, torna-se impossível formular políticas públicas eficazes. Ou seja, enquanto as ações permanecem pontuais, os órfãos seguem esquecidos em meio à dor.
Portanto, o choro dessas crianças precisa ecoar na sociedade
Por fim, o choro desesperado daquele menino do Acre não pode se perder em meio a manchetes ageiras. É necessário, acima de tudo, que a sociedade reconheça a existência desses órfãos. Precisamos garantir que essas vozes infantis sejam ouvidas, acolhidas e protegidas. Afinal, para essas crianças, a ferida deixada pelo feminicídio é uma marca que jamais cicatriza.
Perguntas frequentes
Filhos de vítimas de feminicídio frequentemente enfrentam traumas profundos.
Sim. Em 2023, o governo federal sancionou uma lei que cria uma pensão especial para filhos de vítimas de feminicídio.
Apesar do aumento no número de feminicídios, o Brasil ainda não possui um sistema unificado e eficiente para mapear.