O governo da Alemanha tomou uma decisão contundente ao classificar oficialmente o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) como uma organização extremista de direita. Com isso, o Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV) ou a contar com mais liberdade para monitorar o partido, o que inclui interceptar telefonemas, infiltrar informantes e ampliar as investigações. De acordo com o BfV, essa medida visa proteger a ordem democrática e garantir que forças radicais não comprometam os pilares constitucionais do país.
Essa classificação ocorre justamente em um momento de alta tensão política e histórica. Afinal, a Alemanha se encontra às vésperas da posse de um novo governo, liderado pelo conservador Friedrich Merz, e também do 80º aniversário da rendição da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Nesse contexto, a decisão reacendeu apelos por uma eventual proibição do partido, embora o novo ministro do Interior, Alexander Dobrindt, tenha ressaltado que qualquer ação mais severa exigirá cautela e respaldo legal.
Reações internacionais inflamam o debate e geram desconforto diplomático
Imediatamente após o anúncio, figuras de destaque nos Estados Unidos reagiram com críticas duras. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou que a Alemanha estaria adotando práticas autoritárias ao permitir que sua agência de inteligência espione um partido de oposição. Segundo ele, isso não representa democracia, mas sim uma “tirania disfarçada”. Ainda segundo Rubio, o que seria verdadeiramente extremista não é a AfD, mas sim as políticas de fronteiras abertas que o partido critica.
Além disso, o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, reforçou as críticas ao governo alemão. Em uma declaração feita na rede X, ele acusou o “establishment” de tentar destruir o partido mais representativo da Alemanha Oriental. Para agravar ainda mais o cenário, Elon Musk também entrou na polêmica. O bilionário da tecnologia apoiou abertamente a AfD, participou virtualmente de eventos da legenda e afirmou que apenas o partido poderia “salvar a Alemanha”.
Portanto, as declarações de figuras internacionais influentes, sobretudo em um momento político delicado, aumentaram a tensão entre Berlim e Washington. Ao mesmo tempo, essas manifestações reacenderam o debate sobre a interferência estrangeira na política europeia e sobre os limites da liberdade de expressão no contexto do combate ao extremismo.
AfD denuncia perseguição política e promete resistência judicial
Em resposta, os líderes da AfD, Alice Weidel e Tino Chrupalla, emitiram um comunicado no qual alegaram que o partido está sendo publicamente desacreditado e politicamente perseguido. Segundo eles, a decisão do BfV visa destruir a imagem pública da legenda e impedir que ela cresça ainda mais nas urnas. Ainda conforme o documento, a AfD pretende acionar a Justiça para reverter a decisão e garantir o pleno funcionamento democrático de sua atuação.
De acordo com o BfV, entretanto, o partido promove ideias que excluem grupos populacionais inteiros da vida pública. Mais especificamente, o órgão apontou que a AfD não reconhece cidadãos alemães com origem migratória, especialmente de países muçulmanos, como membros iguais da sociedade. Tal posicionamento, conforme destacou a agência, representa uma ameaça direta à igualdade e aos direitos fundamentais estabelecidos na Constituição alemã.
Por fim, ainda que o partido continue crescendo nas pesquisas e tenha conquistado mais de 20% dos votos nas eleições federais, líderes de diversos partidos do establishment se recusam a cooperar com a AfD. Contudo, Friedrich Merz já rompeu essa barreira ao aprovar, com apoio da legenda, uma moção parlamentar por medidas de imigração mais rígidas — o que provocou protestos e forte reação da opinião pública em várias regiões do país.
Perguntas frequentes
Não necessariamente. O governo alega que a medida protege a Constituição e combate o extremismo, embora haja críticas quanto ao uso desses poderes.
Ele apoia a AfD por discordar das políticas migratórias da Alemanha e defende que o partido oferece uma alternativa real ao que chama de “establishment político”.
Sim, embora esse processo exija critérios rigorosos. A Constituição alemã prevê a possibilidade, mas uma decisão assim depende do Tribunal Constitucional Federal.