Mato Grosso fechou o ano de 2023 com um número alarmante: 19,8 toneladas de cocaína retiradas de circulação pelas forças de segurança. O estado ocupa o terceiro lugar no ranking nacional de apreensões da droga, conforme aponta o Atlas da Violência 2025, documento elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Ipea. O volume chama atenção não apenas pelo impacto direto nas ações do narcotráfico, mas também por revelar o papel estratégico que o estado desempenha como rota do tráfico internacional.
Estado vira corredor logístico do tráfico entre fronteira e grandes centros
O território mato-grossense funciona como uma agem essencial para o transporte de cocaína vinda de países como Bolívia e Peru. A fronteira seca, a malha viária pouco fiscalizada e as áreas de mata com o limitado tornam o estado um alvo constante de organizações criminosas. As quadrilhas usam pistas clandestinas, aviões, caminhões e até barcos para atravessar Mato Grosso e abastecer os principais polos consumidores do país e até do exterior.
Segundo o relatório, Mato Grosso ficou atrás apenas de São Paulo, que liderou com 41,9 toneladas apreendidas, e Mato Grosso do Sul, com 29,7 toneladas. Os dados foram extraídos do Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid), que compilou registros das polícias estaduais e da Polícia Federal.
Policiais atuam em cerco cada vez mais sofisticado, mas enfrentam limitações
Mesmo com grandes operações realizadas pelo Grupo Especial de Fronteira (Gefron), Polícia Federal e forças estaduais, os desafios persistem. A criminalidade transnacional se reinventa constantemente, e os criminosos seguem explorando falhas estruturais, como a baixa presença de tecnologia de monitoramento e o déficit de efetivo humano em regiões remotas.
Operações como a “Protetor das Fronteiras”, conduzidas ao longo de 2023, aumentaram as apreensões, mas também escancararam a dimensão do tráfico. Muitas vezes, as apreensões ocorrem após denúncias anônimas, ações de inteligência ou flagrantes em estradas federais e pistas rurais.
Prejuízo milionário ao crime organizado e pressão por novas políticas públicas
As apreensões em Mato Grosso causaram um prejuízo estimado em R$ 467 milhões às facções criminosas. A quantidade de entorpecentes interceptada comprova que o estado é uma peça-chave no enfrentamento ao tráfico de drogas, mas também reforça o alerta: o volume que escapa ao controle pode ser ainda maior.
Especialistas apontam que o enfrentamento ao narcotráfico exige mais do que ações repressivas. Investimentos em inteligência, integração regional e cooperação internacional são essenciais. Além disso, políticas públicas de prevenção ao uso de drogas e recuperação de áreas vulneráveis ao crime devem caminhar junto com a repressão.
O desafio agora é equilibrar a eficácia das operações policiais com estratégias duradouras que impeçam a consolidação do narcotráfico como uma economia paralela no coração do Brasil.
Porque o estado faz fronteira com a Bolívia e tem áreas de difícil fiscalização, facilitando o escoamento da droga.
Não. Parte é destruída por ordem judicial e parte é levada para perícia em centros especializados fora do estado.
Sim. Forças brasileiras cooperam com países vizinhos e agências internacionais em algumas operações específicas